quarta-feira, 29 de junho de 2011

Queridos leitores e leitoras, lamento muito a minha ausência ultimamente. Tenho andado ocupada com o Ésquilo, com o Lucrécio, com o Horácio, com o Aristófanes, e até mesmo com o Shelley. Ser literariamente promíscua (ou promiscuamente literária) é algo que demora algum tempo, ainda que agora consiga aplicar batôm em cerca de 20 segundos antes de me meter na cama a ler Keats (meow, meow).

Seja como for, hoje venho falar-vos de Línguas, no espírito da Época de Exames que por aí tem andado.
daqui.
Como deve ter dado para perceber pelo post sobre o meu quase-divórcio do Grego, gosto de imaginar que as línguas têm personalidades e abdominais bem feitinhos, e que tenho com cada uma um relacionamento diferente. Eis alguns exemplos:

- Grego (Antigo*): o Grego é uma Rainha de vestidos diáfanos e grinaldas de flores, que bebe vinho (do bom, não daquele que custa €1,50) à beira-mar e tem uma gargalhada que me lembra a cauda dos peixinhos de aquário. Tem, no entanto, um temperamento algo complicado e às vezes é imprevisível, mas posso com segurança afirmar que é o Amor da Minha Vida.

- Latim: é um rapaz bonito e bem-educado, que vai comigo ao Feito e ouve os meus problemas amorosos. Quando se irrita, é um bocado difícil e vem-me com apofonias e coisas assim -- sobretudo quando tem ciúmes do Grego. O Latim é uma espécie de melhor amigo que também é um amigo colorido, e passamos bons momentos juntos.

- Português: eu e o Português somos amigos de longa data. Discutimos de vez em quando, mas ele (ela?) é boa gente e rapidamente fazemos as pazes. Imagino o Português como uma rapariga que usa vestidos cor-de-rosa e parece muito delicada, mas ao mesmo tempo é perfeitamente capaz de desancar pessoas à pazada.

- Inglês: outro amigo de longa data, que gosta de sanduíches de pepino, rentboys Cockney, e festas cheias de gin e estilo. É aquele amigo que é hetero excepto quando confrontado com rapazes feitos de ouro e marfim, com quem me divirto às pampas e que tem um sentido de humor interessante.

- Francês: Imagino o Francês como um rapaz que conheci quando era jovem, mas com quem nem sempre me dou por aí além. Já tivémos um affair intermitente, mas de vez em quando não posso com a voz dele. Gostamos passear e falar sobre Arte.

- Alemão: o metaleiro niilista que me dava cigarros atrás dos pavilhões do liceu. A nossa amizade durante o secundário, baseada em música rock e Nietzsche, esmoreceu rapidamente assim que ele me apanhou a cantar Nena com uma pronúncia de bradar aos céus.

- Chinês: a rapariga com ares de beatnik que conhecemos no primeiro dia de universidade. Ficamos fascinados e pensamos que vai ser a nossa melhor amiga, mas depois nunca mais vemos tirando uma outra vez num café -- e ela não nos reconhece. No entanto, três anos depois a curiosidade continua lá, e pode ser que um dia destes a convide para ir ao cinema (todos: meow, meow!).

- Tailandês: a amiga que vejo durante as férias e com quem vou tomar café, mas não somos de modo algum melhores amigas (ainda). Ouve os meus desabafos sobre o Grego e divertimo-nos muito a estudar as suas consoantes e tons enquanto espero que o resto da minha família acorde para irmos para a praia, but that's it.

Não me vou pronunciar acerca do Espanhol, porque estamos de relações cortadas desde que deixei de precisar de ler revistas do Pokémon. Línguas como o Gaélico, o Islandês e o Havaiano, com as quais tenho apenas breves flirts, não foram (obviamente) incluídas.

segunda-feira, 6 de junho de 2011

Variation on the Word Sleep

(Pessoal, estou à beira de um esgotamento nervoso, e talvez por causa disso estou a ter ideias estupidamente boas/más. Entretanto, eis um poema que encontrei hoje. Agora, vou voltar à Literatura Grega.)


I would like to watch you sleeping,
which may not happen.
I would like to watch you,
sleeping. I would like to sleep
with you, to enter
your sleep as its smooth dark wave
slides over my head

and walk with you through that lucent
wavering forest of bluegreen leaves
with its watery sun & three moons
towards the cave where you must descend,
towards your worst fear

I would like to give you the silver
branch, the small white flower, the one
word that will protect you
from the grief at the center
of your dream, from the grief
at the center I would like to follow
you up the long stairway
again & become
the boat that would row you back
carefully, a flame
in two cupped hands
to where your body lies
beside me, and as you enter
it as easily as breathing in

I would like to be the air
that inhabits you for a moment
only. I would like to be that unnoticed
& that necessary.

-- Margaret Atwood (link)